Hoje, quando cheguei a casa, estavas debruçada sobre a mesa da cozinha a soluçar, inicialmente era só um derramar de lágrimas, a parte dos soluços e asma associada coincidiu com a minha entrada na cozinha.
Como sempre, ou quase sempre, tentei compor descompondo um pouco e perguntei quase sem pensar o que fazias, se achavas que a água da torneira e o super pop não eram suficientemente bons para limpar a mesa. Ergueste a cabeça e esboçaste um sorriso, indesejado ao teu estado de suposto desespero. Disseste que o líquido para limpar a mesa não é o super pop, que esse é para a loiça. O que para mim parece-me sempre preciosismo a mais, desde que cheire bem e faça bolhas é bom para limpar qualquer coisa.
Quebrado o momento perguntei o que se passava e a razão de choradeira tal, momento em que notei o amontoado de individuais, que decoram normalmente a mesa, ao teu lado, facto que juntei à pequena inquisição. Projectas sem qualquer cerimónia a informação de que a tua vida é uma merda, que tu és isto e aquilo e no meio da verborreia sem sentido acho que perdi mais qualquer coisa. Os panos estavam todos amontoados porque não os ias "sujar" de lágrimas, óbvio!
Como não há ponto sem nó, ou ponto sem fio, ou fio sem nó, ou qualquer outra coisa na área da costura que deu origem a um provérbio, o qual eu ia aqui aplicar e agora não recordo, perguntei o que tinha acontecido. E tinha acontecido que bateras com o carro. Mas qual é o drama? Acontece!
Ainda hoje dizia o Público que somos carro-dependentes. Não posso deixar de concordar mas se não tivesse carro como iria de prancha para a praia quando finjo que surfo ou onde andaria a minha sobrinha aos saltos? Tem de ser no banco de trás. Claro! O mesmíssimo local onde os meus filhos vão dizer que querem fazer as suas necessidades fisiológicas 5 minutos depois de arrancarmos de viagem ou espalhar todo e qualquer tipo de comida, aqui para o Pai limpar (isso agora também não interessa nada)!
Cofiei a barba. Eu não noto e devo fazê-lo mais de 50 vezes por dia, dizes-mo tu quando pretendes gozar comigo, de volta, e comentas os meus gestos, o meu animal de estimação é a minha barba, as coisas que tu dizes!
Perguntei pormenores do sucedido, e comecei a tentar convencer-te que não existia razão para a tragédia grega que se me afigurava. E não resultando, passei a modo cortejamento 1.0 como vi uma vez num desses mails que viajam pelos correios e voltam sempre de novo. Que é o que se faz a mulheres dramáticas, que são todas (injustiça, são mulher sim, mulher não, 50% já é um grande desconto), ou que a minha é. Convite para o cinema, o que no meio da rabujice não funciona, e ainda oiço que eu não converso e não falo e não oiço (o que é o supra-sumo da ironia, ouvir que não oiço). Dizes-me "escreve-me uma carta". Eu digo "ok" (às vezes é boa ideia pensar antes de responder, o que não foi o caso) e aqui estou eu.
Já estraguei esta com informação a mais por isso vai para a lista de cartas perdidas!
Gaspar
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