Hoje estive com o meu filho! Não me lembro nunca de o ver como vi hoje. Como está diferente! Sei que não o acompanho, pergunto-lhe as coisas que todos os pais perguntam e ele foge às palavras como eu aos sentimentos. Já não posso pegar nele ao colo e levantá-lo acima da cabeça, nessa altura dizia "Vês! Agora és mais alto do que eu! Consegues ver o mundo todo daí?". Ele ria, gargalhava e dizia logo que não, porque o mundo era muito grande.
Hoje é de facto mais alto do que eu! Raios, mas até acho que a voz é mais grossa. Acho óptimo! É saudável, faz desporto e eu... não o acompanho, eu não o vejo! Falta-me coragem para lhe dizer o que o adoro por ser meu filho. Desde que soube que ía ter um irmão mudou, e nem mais tocámos no assunto!
Pergunto pela mãe, diz que está boa, falamos da selecção e dos jogos, falamos vazios e conversas cheias de trivialidades, até que nada mais há para dizer e o que sobra é som do rádio e do motor do carro onde seguimos de volta, para casa de um amigo, onde quer que eu o deixe, porque o tempo comigo nada lhe diz. Será sequer que me telefona quando não é a minha ex-mulher a dizer para ele o fazer?
"Um dia destes fazemos uma viagem, só nós!" Foi por instinto que o disse e ele olhou-me como se dissesse uma barbaridade sem igual! A verdade é que perdi com um casamento o meu filho, a viagem já ele fez pelos anos e eu fiquei numa eterna sala de embarque. "Era só uma ideia!" digo, e ele relaxa, fica sossegado com os seus pensamentos e quando o vejo diminuir de tamanho à medida que se afaste do carro a silhueta é a do meu miúdo de sempre. Vou levantá-lo de novo acima da cabeça, de certeza que a força dos meus braços será a mesma de sempre! É mesmo engraçado o meu miúdo com as piadas que eu lhe ensino, solta gargalhadas de cócegas bem lá no alto e diz "Agora sou mais alto!".
Amanhã não o verei, nem depois mas hoje, estive com o meu filho!