Conto-te um conto passa-me uma passa ( Intervalo VI )
Achei melhor ficar sentado, desliguei o telemóvel e liguei de novo, a mensagem continuava lá. Nunca gostei de fumar, mas aquelas horas que ficávamos atrás do pavilhão eram as únicas em que vivia, as únicas em que eu era eu mesmo, e era eu mesmo porque estava contigo, só o percebi agora, neste instante em que nada faço senão rever tudo, sentado. O que nós rimos a falar de professoras e aulas inúteis. E o que mais nos unia, o que nos fazia estar centímetros mais próximos era aquele pedaço de material incandescente, que ardia, que eu fumava, que tu fumavas. Era mais nosso aquele pedaço do que tudo o resto. A tua mão tocava a minha e dizias "toma" eu aceitava tocar a tua mão e era esse momento, o toque da tua mão que me queimava, muito mais do que poderia fazê-lo um pedaço de papel a arder. E no meio do fumo que saía de ti existia o fumo que saía de mim. Às vezes dizias "toma não quero mais Valium!", eu achava graça! Sempre gozaste comigo pelo meu nome, Valentim, e eu respondia de volta que uma pessoa chamada Joseph com "ph" no fim não podia gozar do nome de ninguém. E riamos.
Tua mensagem dizia "N gosto de despedidas! vou amanhã p o Brasil morar c o meu pai pq eles acham melhor. miúdas de bikini!! dpois mando noticias!". Achei melhor ficar sentado. Nos últimos dias andavas de facto estranho, não íamos a nenhuma das aulas porque dizias que ia dar ao mesmo. Fumávamos atrás do pavilhão e dizias "toma!" enquanto me tocavas a mão. Andava a pedir-te a minha camisola do Basket há uma semana e tu, dizias sempre que depois devolvias, porque te ficava melhor a ti. Deve estar neste preciso momento dentro da tua mala. Sei que sim.
Foste embora há três dias, recebi hoje uma carta, tua carta. Diz tudo o que eu nunca soube até teres ido, tu sempre soubeste! Começa assim:
Vou contar-te uma história...